20/04/2020
Trabalho real em um mundo virtual

Em um passado não tão distante, existia um modelo de sociedade em que as circunstâncias de vida, os acontecimentos e a realidade do dia a dia aproximavam as pessoas e tudo acontecia em busca do todo e de forma presencial. Não percebemos, mas em algum momento começamos a deixar tudo isso para trás. E o que é “tudo isso”? Estou me referindo a um tempo em que os nossos coachings eram nossos pais, nossos avós, pessoas mais velhas, companheiros de trabalho, um amigo, um vizinho, um irmão ou até mesmo alguém que conhecemos no ônibus, na padaria ou em qualquer outro lugar.

Tínhamos o hábito de conversar, trocar ideias e experiências e, com isso, enriquecer nosso conhecimento de vida, estreitando nosso relacionamento e nossos laços de amizade. Ao invés disso, hoje pagamos pequenas “fortunas” para que “estranhos” nos digam como e quando devemos fazer algo, como devemos trabalhar, nos vestir, falar, até mesmo como devemos nos comportar e que atitude devemos assumir perante a nossa própria vida. Onde ficaram os nossos sonhos? Errar e acertar faz parte da vida, é através desse exercício que evoluímos e crescemos como pessoas e profissionais.

Entendo perfeitamente que a vida moderna nos priva do nosso maior bem que é o tempo. Mas precisamos atentar que junto com essa vida agitada, corrida e quase sem tempo, também vieram “os kits” (estresse, úlceras e gastrites nervosas), tendo como resultado uma permanente ansiedade, que é o mal do século XXI. O computador e o celular se transformaram em nossos “melhores amigos”, a tecnologia virtual tomou conta de nossas vidas, invadiu as nossas casas e as nossas mentes, tudo é resolvido em um clicar de dedos.

O ser humano nunca esteve tão próximo da solidão, mesmo tendo milhares de conexões e seguidores em suas redes sociais. Basta olhar à sua volta e você verá inúmeras pessoas em grupos falando ao celular, alheias a tudo o que está acontecendo ao seu redor e com quem as cerca. O mais triste é que essas pessoas pouco conversam entre si, e podem ser colegas de sala de aula, de trabalho, de academia, enfim, do dia a dia. Muitas vezes sequer sabem o nome umas das outras. Afinal, não se pode desviar a atenção do celular. Isso é mais importante que tudo, não é mesmo? O advento da internet, a globalização, os celulares e as redes sociais inegavelmente conectaram o mundo, mas cadê o coração eo cérebro que antes nos guiavam? Foram substituídos por tablets, notebooks e que tais?

O mundo evoluiu muito nas últimas duas décadas e isso trouxe grandes conquistas para a humanidade. Mas, como pessoas, precisamos retomar o que temos de mais precioso que é a capacidade de pensar, o nosso feeling, a nossa intuição, a nossa sensibilidade, o sexto sentido. Somente o ser humano é dotado dessa capacidade infinita chamada emoção.

Tenho aplicado diariamente na minha empresa, na minha vida pessoal, o exercício de conversar, de perguntar, de ouvir antes de falar e, principalmente, exercer o maior de todos os exercícios que é o de me colocar na posição do “outro”, sem abdicar de toda a tecnologia que temos à mão. Os resultados têm sido gratificantes.

Apesar de toda a revolução tecnológica, ainda e somente a máquina humana é capaz de sentir o cheiro das flores, da chuva caindo no asfalto quente e do aroma do café feito no coador.

Seguiremos avançando a cada dia, as descobertas tecnológicas inegavelmente vêm para facilitar e melhorar nossas vidas, mas não para nos substituir. Fica aqui uma reflexão: o que você está fazendo para mudar esse quadro?

Nelson Alves é mestre em Administração de Negócios e professor universitário.
nelson.alves@consultoriafulltime.com.br
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